quinta-feira, 28 de abril de 2011

"Cachinhos Encantados"

Dedico essa história para Nathy, minha linda afilhada cacheada.

Era uma vez, 
uma menina que nasceu no dia nacional do samba, ela era fruto da pura mistura brasileira. Seu pai, um jovem mulato de boa estatura, ombros largos e pernas bem torneadas, tinha os lábios generosos que envolviam um sorriso largo e o cabelo... "toinhoinhoin". É, "tonhoinhoin"! Quer saber o que é isso?! Os fios do cabelo pareciam molinhas, bem apertadinhas e por onde ele passava, ouvia-se suspiro de donzelas mais assanhadas.
Sua mãe, uma jovem loira de olhos azuis da cor do mar, pele clara roseada, cintura fina, quadris largos, cocha grossa e cabelo bem fino, dourado e "quase liso"... É, "quase liso"! Suas ondas aconteciam do meio para as pontas bem grandes, meio sem definição, nem liso, nem cacheado... Um charme.
Ah... E a bebê era a coisa mais linda que se viu na face da Terra! Tão pequenininha já esbanjava um sorriso maroto, muitas dobrinhas, olhos amendoados, cílios compridos e o cabelo, cheio de cachinhos da cor do mel...Um encanto! Por onde a família passava chamavam atenção.

A menina foi crescendo e hoje os cachinhos vivem presos, coitados... A menina agora é moça e cismou que o cabelo dela é feio, nunca mais os deixou refestelar ao sabor do vento. Ela queria ter cabelo liso, "É, bem liso, igual o dos índios!" revelou Nathy, embaraçada com seus cachos.
Como, se ela é mistura de negro com branca?! Seu cabelo tem cachos perfeitos, que muitos índios, japoneses e brancos gostariam de ter, também. Por que ela não gosta, meu Deus? Onde foi que a natureza errou?
Enquanto isso, seus cachos clamam por liberdade. Mal sabem eles que ela está pensando seriamente em exterminá-los de vez: "Quando eu completar a maioridade, vou fazer uma escova definitiva, ninguém vai me impedir." 
"Ai, ai, ai!", clamam seus cachos e não são ouvidos, "Nathy, você é linda! Somos nós que fazemos você ficar tão bela. Nós somos a seiva do seu encanto. Acredite!" Sem sucesso, eles resolveram escrever uma carta:

"Prezada Senhorita, Nathália Schumacher da Costa,

É com imenso pesar que pedimos uma chance para provar que somos bons. Convidamos você a passar um dia conosco em liberdade, para isso precisamos dos seguintes passos: água, creme de hidratação e carinho. Experimente passar seus dedinhos por entre nós para desembaraçar. É muito divertido. Divida   seu cabelo em seis mechas ou mais, se achar necessário, e desembaraçe uma a uma, umidecendo o cabelo e passando creme do meio para as pontas. Capriche nas pontas! Nos acaricie com seus dedos da ponta para a raíz. É tão gostoso! Depois de desembaraçar a cabeça toda, dê uma ligeira amassadinha com a palma da mão, para nos ativar e pronto, deixe secando ao natural. Enquanto isso, queremos que você faça uma linda maquiagem, coloque sua roupa mais estilosa e aquele salto maravilhoso. Não esqueça dos acessórios. Quando estiver pronta, se olhe no espelho e diga: "Sou bela, sou chique, sou poderosa, sou um arraso!", sacudindo sua cabeça de uma lado para o outro e de baixo para cima. Coloque a música que você mais ama dançar e nos dê liberdade, sacudindo bastante. Sinta o nosso barato! Por favor, nos permita essa noite de despedida.

p.s: se você gostar da experiência, pense mais uma vez antes de tomar atitude tão drástica ;)

Com carinho,
Seus  Cachinhos Encantados."

Nathy ficou sensibilizada com a carta: "Ai, que fofo!" 
E os cachinhos ficaram tão confiantes, que já estão bolando novas estratégias para convencer a moçoila, de que são seu verdadeiro encanto. Mas, o fim dessa estória só saberemos quando Nathy fizer 18 anos.

Fim.

Por Patrícia Costa.

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